sexta-feira, 22 de julho de 2016

Dicas para arrumar um homem?



"No último domingo, zapeando besteiras na televisão, parei, em estado de choque, para assistir a um programa adolescente do Discovery Home & Health que ensinava uma garota inteligente e charmosa a se calar e usar mais rosa para arrumar um namorado. A menina chegou toda autêntica e engraçada (ela não queria estar ali, foi arrastada pelas amigas) e a transformaram numa Barbie versão esposinha submissa. Entrou gatinha, de jeans, óculos e cara lavada e saiu "dia de princesa na Disney" com madeixas rococós, sombra lilás e gloss –para deleite das colegas peruas, que vibravam: "Agora ela desencalha!"
A "coach" ensinava coisas como: faça cara de "socorro" ao abrir o cardápio do restaurante e peça para ele escolher seu prato, mostrando que você é uma debiloide que precisa do auxílio másculo e experiente do seu acompanhante até para as tarefas mais simples: "Ele vai se sentir especial". Que homem, por Deus, se sente importante em perder seu tempo com um ser humano que não consegue sequer se alimentar com determinação? Olhei na data do meu celular, pra ter certeza que estávamos mesmo em 2015. O programa repetia as mesmas frases de um livro que estou lendo, para escrever o roteiro de um seriado, sobre casamentos arranjados no século 18.
O primeiro pretendente era um autêntico playboy bombado camisa justa com brasão. O casal estava cercado por câmeras e a coach a observava em uma espécie de cabine secreta: "É isso aí garota, mexeu no cabelo em vez de falar". E a gênia dos relacionamentos seguia dando seus maravilhosos inputs da castração vaginal: sorria em vez de discordar, pareça o mais leve e otimista possível, enrubesça em vez de competir, baixe o olhar pra mostrar doçura, deixe que ele defina os assuntos e, na hora que chegar a conta, olhe apenas para a decoração do ambiente e AJA COMO UMA MULHER.
Agir como uma mulher é se comportar como uma samambaia que teme parecer o Maguila se ousar ter uma opinião? Agir como uma mulher é ter que ir montada numa roupa fechada a vácuo, em cima de um salto que faria Joseph Pilates desistir do planeta Terra e fazer de conta que nunca esteve tão plena e confortável? E, pior, ser mulher é brilhar na falta de educação a ponto de nem sequer se oferecer para rachar uma conta? Então tô preferindo anotar E.T. na hora de preencher uma ficha de hotel.
E tudo para conseguir um homem! Há tantas coisas para conquistar nessa vida, sério que ainda existe mulher que coloca "fisgar um marido" como única meta primordial da existência? E que espécie de primata é essa que, entre tantas moçoilas interessantes, divertidas, que curtem o trabalho e a sua sexualidade, vai preferir uma ameba solícita, sonsa inexpressiva, grande conhecedora de seu queijo branco preferido e pronta a bater palminhas para seus gases? Sério que enquanto algumas mulheres ganham o Nobel alguns homens ainda preferem as que compram papel higiênico Noblesse para suas bundinhas?
Já ouvi pérolas como "tem sempre que estar com as unhas bem feitas e de preferência com esmalte clarinho", "vai ser difícil você casar escrevendo essas coisas" e "poxa, não vai dar, você já transou com um cara que eu conheço" (meu amor, eu já devo ter transado com uns 20 caras que você conhece, afinal, não passei os últimos 30 anos fazendo um curso de noiva pra te esperar). Sim, o machismo ainda bate todo dia em nossas portas, a sorte é que estamos ocupadas demais para abrir. Muito melhor do que arranjar um "homem a qualquer custo" é conseguir todo o resto e, com sorte e bom gosto, encontrar um cara legal, que aceite fazer parte da sua vida em vez de ser o centro dela."

terça-feira, 19 de julho de 2016

Depois a louca sou eu.


"Antes, eu morava muito longe do trabalho. Mudei para mais perto do trabalho. O trabalho mudou e começou a exigir que eu viajasse toda hora. Mudei novamente de trabalho, para não ter mais que sair da cidade. Mudei então para mais perto desse trabalho. Por fim, comecei a trabalhar em casa.
Antes, se era Paris, que emendasse logo com Londres e Barcelona. Se eram 30 dias, que virassem 40, somando aquela semana que fiz hora extra e o feriado. Com o tempo, mais de dez dias longe de casa já me davam nos nervos. Depois, duas cidades em uma única viagem de cinco dias era coisa de gente que "se desespera com medo de não ter outra oportunidade", o lance é ser fino e curtir uma coisa de cada vez (mentira, eu tava com preguiça, com medo). Aos poucos, Buenos Aires virou o outro lado do mundo. Agora, ponte aérea me faz tomar tarja preta.
Antes, eu ia em todas as festas que me chamavam. Passei a ir apenas às festas de gente que eu realmente conhecia. Depois, apenas nas festas de amigos que comemoram em casa (bar ou balada deixemos para os jovens que ainda têm saúde mental para banheiros imundos). Com o tempo, apenas nas festas dos poucos melhores amigos que não me irritavam, os que irritavam eu fui dando sinais de "cansaço" na amizade até que eles entenderam. Por fim, se o cara morar longe, mesmo sendo o último dos seres que ainda me comove, ameaço ir, mas tem sempre uma azia psicológica que me trava.
Antes, eu circulava meu "Guia Folha" com intensidade, pensando se nove filmes, cinco peças de teatro e quatro exposições seriam possíveis em um único fim de semana. Com o maravilhoso advento do Netflix (e também da Apple TV, do Now e da HBO), passei a escolher com energia apenas as mantinhas antialérgicas para o sofá. Até que, do sofá, eu e a TV mudamos para o quarto.
Antes, eu queria fazer muitos filmes, peças, livros, seriados, novelas, ioga, pilates, filantropia e filhos. E ter muitos amantes e orgasmos e estantes de livros e paredes cravejadas de obras de arte que me dariam um status qualquer de pessoa extremamente ligada ao movimento todo, seja ele qual for. E ser amada pelo público, mas também pelos críticos e pela galera chatola com blog intelectualizado que só 12 pessoas chatolas com outros blogs intelectualizados leem. Hoje, eu quero que a PUC não faça barulho e que os meus médicos tenham horários disponíveis.
Antes, eu tinha bode de viajar com 27 pessoas que nem gosto pra uma casa que eu nem conheço para a praia "segredinho do momento no Nordeste", que nunca era exatamente um segredo porque todos os playboys do país tinham acesso. Depois, eu passei a ter pavor de viajar com 10 pessoas que gosto mais ou menos para uma casa que conheço mais ou menos para a praia "que já saiu de moda e por isso tá mais em conta", que nunca era exatamente barata porque todo mundo tinha essa ideia. Com o tempo, Ano Novo tinha que ser no meio do mato, com apenas mais uma pessoa, lendo livros e com protetores auriculares contra os fogos. Agora, eu tenho taquicardia só de ouvir a pergunta "e Ano Novo, hein?" e sonho com o dia que emendaremos novembro em março, pulando toda essa presepada de peru com família, Roberto Carlos com Simone, trânsito com esperança e Carnaval com armas.
Antes, tinha que ser lindo, bem-sucedido, intelectual, culto, de esquerda, mas com carro e morando na zona oeste. Depois, bastava ser gato, intelectual, morar perto de casa e não me irritar. Com o tempo, bastava ser bonitinho e não me irritar. Hoje em dia, eu curto barba."


domingo, 10 de julho de 2016

"A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana.


(...) Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio."

sábado, 9 de julho de 2016

"Então compreendi perfeitamente o que gerava a dor.


(...) Não era o corte com a ponta da faca, a topada na quina da cama, o amigo que não liga mais, o café que sujou o fogão, as palavras duras, as notícias na tv, obviamente isso soma-se ao fardo, mas não é ele em si. A dor era gerada pela sede insaciável do nada. Pois quando não se tinha o que queria sofria e quando conseguia almejava outra coisa para sofrer. E é por essa sede que os humanos consomem seus dias, pelos futuros que nunca virão ou que serão fadados quando chegarem. E a maior idiotice era perceber: eu também era um desses tais que nunca estava de barriga cheia."

terça-feira, 5 de julho de 2016

Das opções.



"Tive um vizinho que gritava com a namorada ao telefone, sem se importar que o prédio inteiro ouvisse: “Não sei o que fazer! Fico mal contigo e fico mal sentigo!”. Sempre achei essa situação desoladora, e nem estou falando do português do sujeito. É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora) e ambas serem terríveis..."

segunda-feira, 4 de julho de 2016

“As lágrimas à toa é que evito,


(...) porque sei que nada é à toa, me custaria muito justificar a mim mesmo o surgimento delas...”

domingo, 3 de julho de 2016

“A gente alonga a história,


(...) nem que seja para dizer que chorou. Porque terminá-la, colocar um ponto definitivo, é duro demais. A gente vira dor para não virar fim.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

“É que, dependendo da dor que você traz dentro,


(...) dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta.”