"Não entre agora não. Você vai se perder nessa minha desordem. Se quiser, fique parado aí na porta observando. Você vai ver que a minha vida anda mesmo inabitável.
Não é nada pessoal. Não é você, sou eu. Sério. Não é o seu signo nem os seus hábitos um tanto irritantes – essas coisas eu aguentaria. É que eu não quero afogar ninguém no meu mar de incertezas, entende?
Espere a chuva passar. Quando o sol raiar de novo eu abro a janela pra ele e a porta pra você. Juro que espio antes no olho mágico pra me certificar de que você ainda está lá – e espero te ver, olhando distraído pro teto aqui do prédio, com as mãos no bolso e um rosto um tanto quanto despretensioso.
Espere eu abandonar o tarja preta e passar a beber menos. Deixe eu ver a vida com mais jeito que eu dou um jeito de pôr na minha vida – isso é uma promessa. É que eu tô meio cansada pra ser o descanso de alguém, entende? Sou mar bravo demais pra você navegar.
Ficar sozinha não é uma ideia idiota – bem, talvez seja um pouco quando existe por aí alguém como você, mas eu tô arrumando meu mundo pra só depois abrir pra visitação. E você é convidado de honra. Mas, agora, nem eu consigo morar aqui sem sentir um nó na garganta em algumas manhãs. Deixe a vida me sorrir de novo que eu devolvo o sorriso pra você. Deixe ela me mostrar onde eu errei, pra ver se por milagre eu não erro com você. Deixe eu me compreender até que tenha alguma compreensão pra te oferecer. Deixe eu me relacionar comigo.
Deixe eu limpar os cacos, arrumar a casa, pôr a alma em ordem. Quando eu parar de almoçar no fastfood e fumar pela manhã, talvez eu me dê conta que retomei as rédeas da minha vida porque, no momento, elas estão soltas. Livres como eu gosto de ser.
Ninguém merece alma limpa em casa suja. Ninguém merece ancorar o outro e, sinceramente, eu sou a minha própria âncora. Não é justo se apoiar no outro e arriscar fazê-lo cair junto. Prefiro levantar sozinha pra poder te abraçar de pé. Te olhar nos olhos, jogar as cartas, mostrar quem eu sou quando a vida não está me dando tantos golpes.
Deixe eu ser um pouco menos filha da puta antes de te deixar ficar. Olha, eu prometo que tenho tentado. Deixe eu ter amor pra mim pra multiplica-lo pra você. Deixe eu ser um pouco mais minha pra depois, então, ser um pouco tua."
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