sexta-feira, 11 de junho de 2010
Paz
Uma das grandes sensações que alguém pode experimentar nesta vida é a de paz. Paz consigo mesmo, com o mundo e com as pessoas que fazem parte da sua vida. A paixão não é um sentimento que traz paz pra ninguém. Ela te tira do prumo, deixa seu coração acelerado e suas mãos suadas. Paixão e medo caminham lado a lado. O medo também te tira do prumo, deixa seu coração acelerado e suas mãos suadas. Uma pessoa apaixonada quer o outro tanto tanto tanto que tem medo de perder. Ainda que ela não se dê conta disso, o medo de perder existe quando se está apaixonado. A paixão não traz paz. É um sentimento passageiro, perturbador. Arrasa corações adolescentes, mas é vista com muito cuidado pelos mais experientes no assunto. A sensação de paz, ao contrário do que muita gente imagina, não é uma sensação morna, neutra ou de que nada acontece. Ao contrário. As coisas acontecem, mas elas andam no ritmo certo. Não tem nenhum Deus nos acuda, o mundo não vai acabar amanhã e, se for, não há nada que alguém possa fazer (portanto, nada de afobação!). Paz é uma sensação de que (como alguém já disse antes) a direção é mais importante que a velocidade – e uma ligeira desconfiança de que a direção está certa. Paz é quando o mundo não precisa parar pra você descer, pois você pode descer a qualquer momento e tem total controle da situação. Paz é ter a cabeça vazia diante de uma estrada que não tem fim. Paz é colocar sua cabeça no travesseiro à noite e dormir com a certeza de que você não enganou ninguém, não mentiu pra conseguir nenhuma vantagem ou usou de alguma forma ilícita pra conquistar alguma coisa ou alguém. Você tem a nítida sensação do que é paz quando você não busca a felicidade em cada coisa que faz ou em cada lugar que vai. Paz é quando você está na hora certa e no lugar certo simplesmente porque você acha que aquela hora e aquele lugar são certos pra você estar. Paz é querer aquela pessoa que também te quer e, se um dia uma das partes não quiser mais, tudo bem. Você também vai estar em paz pois não precisa de outra pessoa pra viver. Paz é estar feliz com sua própria companhia assistindo filme sexta-feira à noite. Paz é uma sensação interna de que sua busca não acabou mas que ela não acaba quando você encontra. Paz é não ter saudade do passado. Ou ter, mas viver em harmonia com ele. É não esperar pelo futuro com se ele existisse porque, na verdade, o futuro acaba no exato momento que começa. Paz é a sensação de que tudo vai dar certo e, se não der, você terá outra chance. Paz é acordar na beira do mar e não ter nada pra fazer. Ou ter. Paz é uma ave livre abrindo as asas no seu ombro. Paz é um cachorro te olhando nos olhos. Paz é uma sensação de dever cumprido. De uma obra entregue no prazo. De fiz meu melhor. Paz é o final de um espetáculo de teatro depois que as cortinas se fecham. Paz é um par de olhinhos te olhando com admiração e respeito. Paz é uma sensação para poucos, mas aqueles que a experimentam não trocam por nenhuma outra sensação do mundo que possa se acabar num piscar de olhos. Se eu pudesse dar uma fórmula mágica da paz em um texto, eu daria. Mas, por enquanto só posso descrever um pouco do que estou conhecendo. Que não é quente, não é frio e muito menos morno. É leve, é novo, é seguro. Paixão, como eu ia dizendo, tem muito mais a ver com medo do que com amor. O amor é leve. É maduro. É terra firme de se pisar. A sensação de paz é um sentimento tão nobre quanto o amor, só que mais apurado. A paz é sublime.
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